Da série de romances históricos de Emmanuel (que necessariamente não precisam ser lidos como uma sequência), este é mais um daqueles livros que nos remetem aos tempos dos primeiros Cristãos (se você acha esta época interessante, recomendo O Amor Jamais te Esquece, e os demais volumes). Ambientado na região que concentrava a civilização do mundo naquele tempo (Roma), os personagens estão entre os mais humildes e nobres, ocupando suas posições bem definidas, como determinava aquela sociedade.
Acredito ter lido toda esta série de romances (Paulo e Estevão foi o que mais me marcou), mas todos - a exceção de Renúncia - e posso dizer que são bem parecidos em termos de enredo, época e ambientação; mas isto de forma alguma os torna dispensáveis uma vez que um dos volumes seja lido, pois cada um tem suas particularidades, com cargas emocionais distintas e aprendizados diversos.
Ave, Cristo! apresenta muito fortemente o tema do martírio dos primeiros Cristãos, pouco mais de duzentos anos após a desencaração do Cristo, quando os adeptos de seus ensinamentos ainda eram vistos como feiticeiros ou como uma seita que desvirtuava os costumes e valores da época. Interessante analisar que, ao se colocar nas sandálidas dos Romanos da época, onde uma sociedade muito bem estabelecida e próspera existia, a disrupção causada por Jesus era algo muito revolucionário e difícil de aceitar. Os Romanos da época eram muito criteriosos em termos de divisões e status social, muito cultos e estudiosos e em um abiente perfeitamente bem construído que não demandava mudanças ou revoluções. No entanto, o Cristianismo causou um grande impacto na sociedade da época, arrebatando muitos espíritos, fazendo com que muitos (de diversas classes sociais) fossem conquistados pelos ensinamendos do Cristo, ainda que isto representasse a morte ou sofrimento.
Chama muito a atenção a temática do abandono e reencontro inevitável. Os romances espíritas são muito bons em trazer este tipo de situação. Ainda que desconfiemos que este tipo de evento ocorrerá inevitavelemente - em algum ponto da história - somos pegos de surpresa e a emoção sempre nos encontra desprevinidos. Este livro está recheado de situações deste tipo. Como estpírita sempre vivemos aguardando aquele momento em que algo virá nos confrontar no decorrer da vida de forma que possamos resolver alguma situação que ficou incompleta no passado.
Nos dias de hoje não há martítio ou tampouco sacrifício caso se deseje aderir a esta ou aquela corrente religiosa, tudo é muito simplificado, aberto e tranquilo. Não era o cenário daquela época, onde os adeptos do Cristo eram jogados em arenas para serem devorados em público como razão de entretenimento. Hojé é muito fácil (quero dizer, não exige sacrifício) aderir ao Cristo e seus princípios, mas a reforma íntima - pelo menos para mim - continua sendo uma enorme catedral em constante processo de construção. Sempre tem algo para fazer.
O romance é muito bom.
É interessante ver como os personagens estão de alguma forma ligados através do tempo para reajuste e auxílio mútuo. Não importa quantas vidas, se você precisa e ajuste o Cristo vai te buscar. Renúncia e resignação são temas também fortemente explorados neste livro, natural da natural na doutriba espírita.
Ao terminar de ler este livro, inevitavelmente me pergunto: será que sou o algoz? Será que sou aquele que contribuí para a evolução do próximo? E aqueles que estão ao meu lado, no convívio diário, o que será que nos trouxe até aqui. A beleza da doutrina espírita é permitir que possamos recomeçar, diariamente.